7 erros de tradução que mudaram o curso da história mundial.
A tradução é uma ferramenta poderosa que, nas mãos erradas, pode ser letal. Iniciar conflitos, deturpar culturas e até redefinir os rumos da humanidade.
A tradução é uma ferramenta poderosa que, nas mãos erradas, pode ser letal. Iniciar conflitos, deturpar culturas e até redefinir os rumos da humanidade.
Muito além de palavras trocadas, erros de tradução já acenderam estopins de guerra, transformaram significados religiosos e moldaram narrativas científicas equivocadas.
A seguir, conheça sete casos marcantes em que um simples erro de tradução mudou a história mundial.
"Mokusatsu" e o Bombardeio de Hiroshima (1945)
Após o ultimato dos Aliados exigindo a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, o premiê japonês Kantaro Suzuki respondeu com a palavra "mokusatsu", uma expressão ambígua que pode significar tanto "sem comentários" quanto "ignorar" ou "tratar com desprezo". A imprensa japonesa, sob censura e controle militar, divulgou a resposta como significando uma rejeição hostil ao ultimato. Essa interpretação foi divulgada por meio de traduções no Ocidente e entendida pelos Aliados como um desafio direto. Argumenta-se, porém, sobre a possibilidade de não haver um erro de tradução deliberado, mas sim uma escolha proposital de ambiguidade linguística e política. Ainda assim, tal escolha contribuiu para a decisão de bombardear Hiroshima dias depois.
(Fonte: NSA.gov)
"Vamos Enterrar Vocês!" – Nikita Khrushchev (1956)
Durante um discurso em 1956, o líder soviético Nikita Khrushchev declarou: "Мы вас похороним!" ("My vas pokhoronim!"), que foi traduzido como "Vamos enterrar vocês!". Essa tradução, embora linguística e gramaticalmente correta, causou alarme no Ocidente, que interpretou a frase como uma ameaça direta de destruição. No entanto, o relatório da CIA revela que Khrushchev fazia referência à doutrina marxista de que o socialismo superaria historicamente o capitalismo — ou seja, que o Ocidente 'seria enterrado pela história'. O problema não foi a tradução literal, mas a ausência de contexto ideológico e cultural, o que intensificou as tensões da Guerra Fria e ilustra como mesmo uma tradução correta pode gerar sérios mal-entendidos se desprovida do contexto apropriado.
(Fonte: CIA.gov)
"Canali" em Marte e a Ficção Científica (1877)
Em 1877, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli observou Marte e descreveu uma série de estruturas lineares como "canali" — um termo que em italiano significa "canais", no sentido de formações naturais. No entanto, a tradução para o inglês optou por "canals", termo que sugere obras artificiais. Essa sutil diferença deu origem a uma verdadeira febre midiática e científica: o astrônomo americano Percival Lowell interpretou os "canals" como sistemas de irrigação criados por uma civilização marciana avançada.
Lowell escreveu artigos e livros defendendo a existência de vida inteligente em Marte, especulando inclusive sobre a engenharia e sociedade dos marcianos. A imprensa popular da época, incluindo o The New York Times, publicou reportagens entusiásticas — e altamente especulativas — apresentando essas ideias como fatos científicos. Títulos como "MARTIANS BUILD TWO IMMENSE CANALS IN TWO YEARS" (1911) e "THERE IS LIFE ON THE PLANET MARS" (1906) ilustram o impacto da tradução equivocada no imaginário coletivo e na ciência da época.
(Fonte: fivethirtyeight.com)
Moisés com Chifres na Arte Cristã
Um dos erros de tradução mais duradouros da história surgiu com São Jerônimo, ao traduzir a Bíblia hebraica para o latim no século IV. No livro do Êxodo, após Moisés descer do Monte Sinai, o texto hebraico original diz que seu rosto "brilhava" (com a palavra "qāran", relacionada a "raios de luz"). No entanto, Jerônimo traduziu o termo como "cornuta" — que significa "com chifres".
Essa escolha influenciou profundamente a arte cristã por séculos: Moisés passou a ser retratado com chifres em esculturas, pinturas e vitrais, inclusive na famosa escultura de Michelangelo. O erro permaneceu praticamente incontestado até os tempos modernos, tornando-se um exemplo clássico de como a língua influencia o imaginário religioso e cultural.
(Fonte: ncregister.com)
O Discurso de Jimmy Carter na Polônia (1977)
Durante uma visita à Polônia, o presidente dos EUA Jimmy Carter teve seu discurso traduzido de forma errada, fazendo parecer que ele expressava desejos sexuais pelo povo polonês e que havia abandonado os EUA. O erro causou constrangimento diplomático.
(Fonte: abroadlink.com)
"Demander" e a Crise EUA-França (1830)
Em 1830, uma simples tradução errada do francês causou um grande impasse diplomático entre os EUA e a França. A frase "le gouvernement français demande" foi traduzida como "the French government requests" (o governo francês solicita), o que fez com que o presidente dos EUA interpretasse a mensagem como uma exigência de muitas solicitações, não como um só pedido. Essa diferença gerou uma crise temporária nas negociações, que só foi resolvida quando a tradução foi corrigida.
(Fonte: files.eric.ed.gov)
O Incidente do Golfo de Tonkin (1964)
Uma tradução incorreta de comunicações norte-vietnamitas levou os EUA a acreditar que um segundo ataque havia ocorrido a seus navios. Isso foi usado como justificativa para a escalada militar na Guerra do Vietnã. Posteriormente, descobriu-se que o ataque não aconteceu.
(Fonte: usni.org)